Sem encontrar roupas para malhar, a empreendedora desenvolveu uma marca plus size esportiva
Terminei a gravidez com 140 quilos. Com essa medida, não existiam mais roupas em lojas comuns para o meu tamanho. Eu não encontrava no shopping uma calça jeans que coubesse no meu corpo. Aliás, até hoje esses lugares não têm estabelecimentos preparados para atender esse tipo de público. Nenhuma das grandes marcas quer atender clientes gordas. Naquela época, quando eu tentava usar uma peça normal no maior tamanho disponível, passava ridículo. Fora o aperto, bastava agachar para brincar com o meu filho para ficar descoberta. Nos pontos especializados em moda GG, as poucas opções disponíveis eram sem cor, desconfortáveis e tristes. Comecei a me sentir mal até com um dos meus hobbies favoritos, que é praticar atividade física. Todo mundo diz que o obeso precisa ir à academia, mas eu não encontrava nem roupa para isso. Então, decidi pensar, com a ajuda de uma costureira, uma modelagem de calça legging que se adaptasse ao meu perfil. Demorou dois anos mais ou menos para conseguirmos o resultado perfeito. Eu sempre pedia que o cós ficasse mais alto, que a calça fosse menos transparente. Quando a peça ficou pronta, não a tirei mais do corpo. Como era muito confortável, eu a usava não apenas na academia, mas também para ficar em casa e até mesmo para passear.
Em uma das saídas em que usei esse look, fui visitar a Pop Plus, a principal feira de plus size do Brasil e da América Latina. Como são raras as opções de roupa esportiva, muitas mulheres me perguntavam de qual loja eram a calça e a jaqueta que eu estava vestindo. Respondia que eu havia feito as peças com uma costureira e percebia a decepção no olhar delas. Depois que saí do evento, comecei a pesquisar e percebi que as pessoas não tinham o que eu tinha no meu guarda-roupa: uma legging que dava liberdade para me movimentar. Liguei para a minha amiga designer Marioli Oliveira e pedi a ela ajuda para criar uma marca. Quando contei sobre o projeto, ela se apaixonou tanto que quis ser minha sócia. Assim, nasceu em 2017 a WonderSize, uma loja de moda fitness esportiva. E a nossa primeira peça foi a calça legging Joana Dark, que aguenta qualquer batalha. Tiramos a empresa do papel 45 dias após a primeira reunião. Em pouco tempo, já estávamos faturando 30 000 reais por semana! Desde o começo da WonderSize, nossas vendas só crescem. Chegamos a ter uma receita média de 260 000 reais por mês em 2019.
No começo do negócio, a maior dificuldade foi encontrar um padrão de corte para o plus size. Como eu não era do ramo, fiquei surpresa ao saber que não havia mais modelos a partir de determinado tamanho. Era como se a sociedade excluísse todos os que vestissem número maior que o “padrão” estipulado. Decidimos que nossa grade de números iria até o 66. No mercado “normal”, 44 já é considerado tamanho GG. Hoje estamos desenvolvendo peças para outras linhas, como a moda praia e a versão office, que será lançada neste ano. O processo de criação plus size não é simples. Precisamos de modelagem de primeira, com bons acabamentos e um tecido resistente. Minha meta para a marca é levar liberdade às pessoas, incentivando-as a praticar esportes e a se sentir confortáveis com seu corpo. Não queremos fazer apologia da obesidade. Também não estamos dizendo: “Vá para a academia porque você é gorda”. Nossa peça faz com que as clientes consigam realizar atividades físicas e se sintam bem em ambientes informais e até mesmo em formais. Não importa se a mulher toma a decisão de emagrecer ou não, queremos que ela tenha a opção de decidir. Continuo com meus 140 quilos. Estou bem comigo mesma e não tenho mais vergonha das minhas roupas.