Serviço agrada principalmente às mulheres dos 20 aos 35 anos. Até o momento não existem empresas com ofertas ao público masculino
Tudo se compartilha: filmes, apartamentos de temporada, músicas e carros. Em tempos de Netflix, Airbnb, Spotify e Uber, consumir um produto sem ter sua propriedade é uma das características de comportamento que mais refletem os humores do século XXI. Há, nessa tendência, uma novidade: o aluguel de roupas. Crescem, nos Estados Unidos e na Europa, e agora também no Brasil, as lojas físicas ou startups que oferecem peças finas mediante um pagamento mensal.
O negócio nasceu em 2009, com a nova-iorquina Rent the Runway. Hoje, o serviço tem listados, e guardados em imensos galpões, mais de 450 000 modelos. Com o equivalente a 600 reais, alugam-se até quatro itens por vez, sem tempo estabelecido de devolução. A Rent the Runway foi recentemente avaliada em 1 bilhão de dólares, o que a instalou no grupo dos unicórnios (termo utilizado para designar as startups que atingiram tal valor de mercado). No Brasil, passados dez anos da explosão americana, a ideia já desembarcou com vigor: existem pelo menos dez marcas em quatro capitais — São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre. As assinaturas, por aqui, começam em 50 reais mensais e chegam a 550 reais. A diferença varia de acordo com a quantidade de peças e o prazo para a devolução dos produtos. Com o valor de largada, retira-se uma peça por vez e permanece-se com ela por no máximo dez dias. Nas versões mais caras, o consumidor tem direito a um número ilimitado de peças, mas só pode levar três itens de cada vez e tem o direito de guardá-los durante quatro semanas. A escolha é feita on-line e, se quiser, o cliente nem precisa ir até a loja (as entregas são feitas em casa). Diz a administradora de empresas Eduarda Ferraz, sócia da Clorent, uma das maiores do gênero em São Paulo: “As pessoas gostam porque é prático e econômico”.
Na ponta do lápis, as assinaturas valem, sim, a pena — especialmente para quem aprecia modelos da alta-costura. Por 319 reais, por exemplo, podem-se usar ao longo de um mês um vestido Valentino, uma calça Bobô, um casaco Yves Saint Laurent, um macacão Rosa Chá, um blazer Iorane e uma saia Gucci. Essas seis peças juntas custariam numa loja a bagatela de 14 720 reais. É possível também alugar apenas um item por vez. Mas, em geral, o aluguel unitário nessas empresas equivale em média a 15% do valor da roupa. Só o vestido Valentino custaria mais ou menos os 319 reais da assinatura. Dois dos grandes desafios do negócio são evitar a repetição dos modelos e executar a lavagem das roupas. A pioneira Rent the Runway mantém o próprio serviço de limpeza, com capacidade para lavar e secar 2 000 peças por hora. No Brasil, a lavanderia ainda é terceirizada.
Os homens que se interessarem pelo assunto, infelizmente, não poderão aderir ao serviço. Até o momento não existem empresas com ofertas ao público masculino — nem aqui nem nos EUA. Mas isso pode mudar no futuro, marcadamente entre os mais jovens. Segundo levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e do Serviço de Proteção ao Crédito, 89% dos brasileiros que já experimentaram alguma forma de consumo colaborativo com roupas aprovaram o modelo. O serviço agrada às consumidoras das gerações Y e Z (na faixa dos 20 aos 35 anos). “A moda compartilhada pegou porque tem um viés de sustentabilidade importantíssimo para a sociedade moderna — e os mais novos estão ligados no fim do desperdício”, diz Bruna Ortega, especialista em beleza e moda na WGSN, empresa de análise de tendências. A indústria da moda realmente é uma das mais poluentes. De acordo com uma pesquisa do instituto Boston Consulting Group, cerca de 100 bilhões de peças de vestuário são produzidas anualmente no mundo, e boa parte delas acaba sendo descartada em pouco tempo. Até 2050, a indústria da moda consumirá 25% da cota do carbono permitida. Compartilhar roupas, portanto, pode ser bom para o bolso e para a consciência.